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Eduardo Jorge Madureira: “Um exemplo de outro modo de aprender”

(Extracto do texto de intervenção na Cerimónia de Encerramento do 12.º Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio que decorreu no Cine-Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim, no dia 8 de Dezembro de 2018)

“Tenho tido, desde há cerca de uma década, oportunidade de observar os vídeos participantes no Concurso Nacional de Vídeo Escolar 8 e Meio. Promovida pelo Clube de Cinema 8 e Meio, da Escola Secundária Eça de Queirós – para mim indissociável do professor Luís Nogueira –, a iniciativa, que conta com o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, é, sem qualquer dúvida, uma das mais interessantes e proveitosas actividades escolares de âmbito nacional.

O sucesso do empreendimento pode, desde logo, aferir-se pela circunstância de persistir, e com idêntico entusiasmo, desde há doze anos, na mobilização anual da energia criativa dos jovens estudantes do ensino secundário de todo o país; doze anos são quase uma eternidade quando se trata de iniciativas escolares não curriculares. Creio não errar se disser que terei assistido aos primeiros passos de uns quantos cineastas e videastas – se se der o caso de os meios não lhes faltarem, uma vez que o talento lhes é abundante.

Sabemos bem da importância que o cinema tem para a educação e o ensino. Pode aprender-se muito com um bom filme, com o que todos concordaremos. Um bom filme na sala de aulas de qualquer disciplina pode fornecer boa informação, do mesmo modo que é susceptível de ajudar à emergência de algumas das formas de sabedoria. Podemos ficar a conhecer mais sobre muitos assuntos, assim como podemos desenvolver a empatia, hoje tão necessária.

Um dos vídeos que mais apreciei – embora não por razões sobretudo artísticas – intitulava-se “Quem é Manuel António Pina?” e foi premiado na cat­e­go­ria Ani­mação no concurso de 2013. O seu autor foi aluno da Escola Secundária D. Afonso Henriques, em Vila das Aves, e chama-se Dinis Leal Machado.

Sobre esse vídeo, escrevi, no início de 2014, no dia 7 de Janeiro, uma breve nota no blogue Página 23 em que dizia que o “eduquês”, como muito avisadamente explicava Maria Emília Brederode Santos no jornal Público desse dia, é um “chavão-espantalho”. O “eduquês” é, dizia a agora presidente do Conselho Nacional de Educação, uma “forma de bullying verbal”. O meu escrito de há quatro anos prosseguia referindo que, “em não raras ocasiões, fica-se também com a impressão de que a palavra é usada para denunciar qualquer vestígio de alegria em ensinar e aprender, como se a satisfação tivesse de ser forçosamente incompatível com o estudo metódico ou o trabalho bem executado”. E o vídeo que Dinis Leal Machado realizou sobre o poeta Manuel António Pina tinha justamente o mérito de se encarregar de, eloquentemente, desmentir os que assim pensavam, tornando-se um excelente exemplo de como um trabalho escolar rigoroso e criativo se pode conjugar com o prazer.

Hoje pouco se fala de “eduquês”, não sei se por a ditadura dos rankings se ter definitivamente encarregado de silenciar todos os que ambicionam que a escola seja bem mais do que um espaço de amestramento dos mais novos para obterem boas notas em exames.

O entusiasmo que senti pelo carácter exemplar desse vídeo levou-me a persistir em propagandear o modelo que ele oferece junto de quem quiser tornar mais cativante o estudo de qualquer disciplina, uma vez que o trabalho videográfico pode ser replicado, se possível com idêntica imaginação, em qualquer área curricular. Em vez de apenas assistirmos a um bom filme, somos interpelados a realizá-los.

Embora o lado técnico possa parecer o mais admirável, o trabalho de pesquisa é igualmente apreciável, sendo, convém sublinhá-lo, essencial para obter um bom resultado. E o trabalho que o jovem autor teve para elaborar o perfil de Manuel António Pina revela um fascínio por um escritor que não se pode dizer que seja propriamente muito habitual nos estabelecimentos de ensino portugueses. Esse partir à descoberta de um autor e de uma obra que acabou por conduzir a uma obra também ela original é um exemplo que vale a pena ter em boa conta se se quiser estimular a alegria de aprender.”

O vídeo sobre Manuel António Pina pode ser visto aqui.