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Sala cheia no lançamento do Observatório sobre Media, Informação e Literacia

July 10, 2018

Cerca de 50 pessoas marcaram presença na passada sexta, dia 6 de julho, na cerimónia de apresentação do MILObs, Observatório sobre Media, Informação e Literacia, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho em parceria com o Grupo Informal de Literacia Mediática (GILM).

Na mesa estiveram os coordenadores do MILObs, Manuel Pinto e Sara Pereira, o diretor do CECS, Moisés de Lemos Martins, a Comissária do Plano Nacional de Leitura, Teresa Calçada e o perito de educação para os media e vice-reitor da Universidade de Valladolid (Espanha), Agustín García Matilla.

Um pouco de história…

A cerimónia foi o início oficial de um Observatório que, como explicou Manuel Pinto, há muito vinha sendo pensado. A ideia surgiu no final de 2009, início de 2010, quando o CECS recebeu uma encomenda da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) para realizar um estudo sobre a Educação para os Media em Portugal (que viria a dar origem ao livro Educação para os Media em Portugal: Experiências, Atores e Contextos). Essa encomenda levou os autores a sentir a necessidade de “qualquer coisa que apoiasse, reunisse, ajudasse a encontrar facilmente a informação”.

A ideia, recordou ainda Manuel Pinto, foi agarrada desde o início pelo Grupo Informal de Literacia Mediática (GILM) e, em abril de 2011, ganhou forma escrita, no ponto 3 da Declaração de Braga, saída do I Congresso Nacional de Literacia, Media e Cidadania.

Observar, mas não só…

Contextualizado o nascimento e o processo de gestação da ideia, o coordenador do MILObs frisou que o Observatório é entendido como um trabalho em rede que, “além dos parceiros mais diretos, pretende juntar também quem está a investigar e quem está no terreno a intervir”. Sendo um repositório de recursos, com uma presença marcadamente digital, o MILObs pretende ir mais além, tomando iniciativas no campo da formação, disponibilizando serviços, lançando publicações e materiais em diferentes formatos, rematou.

Uma ideia reforçada por Sara Pereira, também coordenadora do MILObs: “O Observatório não é só para observar, mas também para fazer, agir, tomar posição”. Coube à investigadora e professora do CECS orientar os presentes numa visita virtual ao site do Observatório, organizado em quatro eixos: políticas (nacionais e internacionais); práticas (onde se destaca a componente de intervenção e se dá destaque a experiências e iniciativas que se tenham realizado ou estejam a decorrer); formação (divulgação da oferta que existe); investigação (passada e presente).

Para Sara Pereira a grande vantagem do site consiste em “reunir documentos, materiais, pessoas, ajudando a fazer face à dispersão enorme de informação que existe e servindo de base para o trabalho que queremos realizar”. Tratando-se de uma rede participativa, Sara Pereira terminou a intervenção lançando um apelo a quem trabalha a área da Literacia Mediática para que comunique ao MILObs as iniciativas, projetos e investigações que está a realizar.

Leituras complexas

Teresa Calçada centrou a comunicação nos desafios que o mundo atual, e nomeadamente a tecnologia, coloca aos leitores. “Ser leitor hoje implica ser crítico”. Sem esta dimensão, “somos apenas alfabetizados”, afirmou. A Comissária do PNL elencou uma série de desafios que hoje se colocam aos leitores (o empobrecimento das mensagens, na forma e no conteúdo; os soundbytes; o pensamento monolítico reforçado pelos algoritmos…), manifestando preocupação com o que são muitas vezes as consequências de tais práticas: manipulação, instrumentalização, fragilização da sociedade democrática. Para Teresa Calçada, a cultura e o conhecimento são a solução, ao permitirem encontrar “um nicho de liberdade”.

Da importância de ter uma postura crítica falou, também, Agustín García Matilla. Recordou o seu colega catalão Joan Ferrés, para quem o pensamento crítico não basta, sendo fundamental uma atitude crítica. Num tom de crítica, justamente, pela forma como funciona o sistema de ensino atual, que separa o saber em “áreas artificialmente estaqnques”, Matilla defendeu uma escola que faça os alunos sentirem-se protagonistas da sua aprendizagem. Algo que do seu ponto de vista não acontece: “Este sistema de educativo tem-nos ensinado que não somos importantes”. Para o professor da Universidade de Valladolid é preciso ter presente que “as mudanças não estão nas leis, mas nas pessoas” e que, com compromisso e implicação, se consegue transformar a realidade.

Com discursos que, mais do que ideias, transmitiram sonhos, Teresa Calçada e Augustín Matilla levaram Manuel Pinto a rematar assim a sessão de lançamento: “Não levamos daqui um Observatório. Levamos uma Revolução”.

Fotos: Sofia Gomes