Literacia mediática essencial para a resiliência da NATO: o relatório e uma resposta
October 20, 2022Com autoria de Tessa Jolls, o relatório Building Resiliency: Media Literacy as a Strategic Defense Strategy for the Transatlantic sustenta que os cidadãos e os seus níveis de literacia mediática são a “primeira linha de defesa” (p. 4) contra as diferentes formas de desinformação que assolam os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Contudo, o documento, com financiamento da própria NATO, mereceu reparos do também investigador Nolan Higdon.
Através de um mapeamento dos diferentes cenários de promoção da literacia mediática nos países da aliança, da análise documental dos objetivos da NATO e de entrevistas com 63 legisladores, executivos dos meios de comunicação, jornalistas e investigadores e promotores de educação para os media, o relatório aponta para importância da análise crítica face à imprevisibilidade global. “Ao longo do tempo, todos podem adquirir competências de discernimento que ajudem as pessoas a tornarem-se gestoras de risco mais competentes, que têm mais resiliência face aos desafios inevitáveis que a vida apresenta. É esta resiliência que a NATO procura através dos seus esforços de literacia mediática”, refere-se no documento assinado por Jolls (p. 6). A compreensão das narrativas e do seu enquadramento é apresentada como essencial para a consumação da compreensão crítica (p. 8): “forma como uma narrativa é enquadrada tem mais a ver com o que é omitido do que com o que está incluído na narrativa; afinal, as histórias têm pontos de vista e não há nem tempo nem apetite para serem totalmente representativas”. Esta aspeto é um dos principais pontos de contenda para Nolan Higdon.
De acordo com Higdon, o relatório financiado pela NATO dilui o significado da literacia mediática ao contribuir para que esta, na perspetiva do autor, seja instrumentalizada “por organizações e indivíduos que procuram aumentar o seu poder influenciando a perceção da realidade por parte do público”. Acrescenta Higdon que “a verdadeira educação em literacia mediática” tem como objetivo formar “utilizadores autónomos e sofisticados dos media, que fazem as suas próprias perguntas sobre quem controla as mensagens dos meios de comunicação e interrogam as estruturas de poder por detrás deles”. O investigador duvida que este seja um dos objetivos da NATO: “quando um estudante é deixado dependente do complexo militar-industrial para analisar os conteúdos [dos media], isso não é educação. É doutrinação”.
Para que possa conhecer melhor os argumentos desta discussão, o relatório de Jolls e a opinião de Higdon encontram-se disponíveis aqui, entre os recursos do MILObs.